Entrevista: Luna Alkalay
maio 24, 2023"Nunca vivi a doce saudade de um dia voltar para minha cidade, minha aldeia, minha família. Para alguém. Não conheço a sensação de raízes, de comidas de vó, de domingos, de férias sonhadas em sítios, no interior. Não tenho memórias de família a não ser alguns breves momentos que acabaram antes que eu pudesse me acostumar a eles." - Luna Alkalay
Para conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória e entender quais foram suas principais inspirações, a convidamos para uma entrevista exclusiva! Confira a seguir:
1) Primeiro, nos conte um pouco
sobre você. Quem é Luna? Qual foi a sua trajetória até se tornar, além de tudo,
escritora?
Desde
1975 trabalho com audiovisual. Fiz alguns curtas metragens, meu primeiro
trabalho autoral foi a curta ficção Sangria, em 1975 com Selma Eggrei, Fernando
Peixoto, Jofre Soares, Emmanuel Cavalcanti. Logo em seguida comecei a elaborar
o roteiro do longa metragem Cristais de Sangue, na Chapada Diamantina, Bahia.
Esse filme foi exibido em circuito comercial e em seguida em Portugal, em
Moçambique. Naquela época, existiam pouquíssimas diretoras de cinema no Brasil.
Hoje estamos em pleno processo de restauração e digitalização do filme o que
permitirá que ele volte a ser exibido.
Em 2005, fiz o documentário de longa-metragem Estados Unidos do Brasil, com o Rodrigo Teaser, que é o cover mais famoso do Michael Jackson. Como sempre participei de roteiros além de escrever alguns autorais, em 2011 resolvi me dedicar à escrita. Foi aí que entre outros dei início à essa biografia inventada da minha mãe e sua família que viviam na Áustria nazista. A partir daí escrevi contos, uma história infanto juvenil chamada Os Analfafalas, ainda inédita. Agora, preparo o meu terceiro longa chamado Trópico de Leão, uma história sobre o abuso psicológico vivido por inúmeras mulheres, que começo a rodar ainda em maio.
2) Você afirma já ter passado por todo tipo de opressão, desmantelamento e repressão. Como foi lidar com essas tentativas de censura?
A censura, durante a ditadura militar, atingiu duramente as pessoas que ousaram levantar a voz contra os absurdos cometidos. A cultura, a universidade, foram particularmente perseguidas. Mas é nesses momentos que a criatividade e a vontade de falar, se manifestam mais fortemente. Trabalhávamos em grupo, filmávamos em sistema de rodízio, no qual todos faziam todas as funções. Mas, apesar disso, vários filmes, peças de teatro, livros, canções, como sabemos, foram proibidas e seus autores punidos.
3) Você acredita que há uma conexão entre a direção cinematográfica e a escrita de obras literárias? Se sim, como você vê essa conexão e como ela influencia no seu trabalho?
Crio imagens, invento personagens, situações, crises. A escrita literária, me permite voos que no cinema são impeditivos porque custam muito caro. As invenções deste romance, Minha mãe inventada, não teriam sido possíveis num cinema de baixo orçamento como é o meu cinema. A literatura me permitiu essa imensa liberdade. Mas, como dizia minha mãe “o cinema é como uma malária e quando imaginamos estar curados, ele volta com tudo”. Hoje acredito que o melhor é navegar entre essas duas linguagens.
5) Qual foi a parte mais desafiadora da escrita deste livro?
7) Há autores ou livros que influenciam sua escrita? Como você acha que essa influência reflete em seu próprio livro?
8) Por fim, quais são os seus planos para o futuro? Existe alguma história nova em construção?
0 comentários