Entrevista: Bell Puã
novembro 24, 2020Esta semana, dia 26 de novembro, acontece a entrega do 62º Prêmio Jabuti, e nossa obra "Lutar é Crime" de Bell Puã é finalista na categoria Poesia. Com inspiração no grande mestre e conterrâneo Marcelino Freire, em Lutar é Crime, as vozes-mulheres que fazem vibrar as estruturas do patriarcado, racismo e demais injustiças que formam as bases da sociedade brasileira são empunhadas.
Bell conta que o título de "Lutar é Crime" entende que amar e lutar são verbos complementares, onde a atual realidade do Brasil cada vez mais engaiola o direito de reagir às desigualdades. Se lutar é crime, a expressão de condenada é, afinal, seria o que liberta?
Autora da obra, Bell Puã é Isabella Puente de Andrade, historiadora e poeta, nascida entre o mangue e o sol do Recife. Vencedora do Campeonato Nacional de Poesia Falada - Slam BR 2017, representante do Brasil na Poetry Slam World Cup 2018, em Paris, e convidada da FLIP 2018, Bell é finalista pela primeira primeira vez do Prêmio Jabuti.
Em comemoração a essa indicação super especial, convidamos Bell para uma entrevista sobre sua trajetória e seu amor pela literatura. Confira:
1) Quem é Bell Puã? Você acha que é possível se descrever sem falar de poesia?
Bell Puã é mulher, preta, mãe, Mestre em História pela UFPE, poeta, ativista, cantora, compositora, atriz (várias facetas aí de Bell Puã) e, sobretudo, pernambucana. Sou recifense. Não é possível falar de mim, sem falar de poesia, porque desde que a poesia me visitou, quando eu era criança, ela me fez outras visitas durante a minha vida, até decidir morar aqui dentro e fazer parte de mim. Então, falar de Bell é falar de poesia, nas múltiplas formas que ela se apresenta.
2) Você é um nome de destaque da cena do slam e representou o Brasil na França, em 2018, na etapa internacional do concurso de batalha de poesia. Conta para gente um pouco mais sobre o Slam.
O slam é essa batalha de poesia falada, que vem do hip hop. E, por entendê-lo na sua multiplicidade. Mesmo quando estive em Paris no slam internacional, tive acesso a poetas de várias partes do mundo, desde a Europa até a África, Japão, Vietnã. Foi algo bem diverso e me possibilitou conhecer várias culturas (um pouquinho, né?) e línguas.
O slam é essa competição que não tem sentimento de competitividade, a gente torce muito pelos que estão ali envolvidos, competindo. São poesias, geralmente, políticas e dar nota pra poesia é a coisa mais besta que existe. Então, a gente está bem ciente disso, como poetas. O slam só fomenta a cena da poesia marginal com muita união. Eu acho isso muito bonito.
3) Como você começou a adentrar no universo das batalhas de poesia?
Primeiro, eu comecei vendo uns vídeos no Υoutube, dos slams que aconteciam pelo Brasil. Lembro de assistir muito vídeo do Slam Resistência, que acontece em São Paulo. Até que, em 2017, duas poetas fundamentais para a cena daqui de Pernambuco: Patrícia Naia e Amanda timóteo criaram o Slam das Minas PE, e aí eu fui batalhar. Foi assim.
4) O que "Lutar é Crime" tem de diferente de suas outras obras?
Minhas únicas outras obras autorais são minha dissertação de mestrado e meu primeiro livro, antes de Lutar é Crime, que foi “É que deu perdido na razão”. “É que deu perdido na razão” é um livro com poemas de romance, não aponta muitas críticas sociais não, é mais sobre amor, inteiramente.
E minha dissertação de mestrado é sobre História Ambiental, dos anos 30 aos anos 50, as relações humanas com o mangue, no Recife. Considerando que “Lutar é crime” tem essa tônica tamanha de senso crítico e falando sobre racismo, patriarcado, classe na poética, dá pra dizer que é bem diferente dessas outras duas.
5) Qual a sensação de ser finalista do Prêmio Jabuti de Literatura com Lutar é Crime? Era algo que você já esperava?
Acho muito massa esse reconhecimento do meu trabalho. Embora ele não tenha essa linguagem, que historicamente é mais afável à intelectualidade, que é aquela linguagem mais dura e menos acessível. Muito bonito aceitarem a proposta de Lutar é Crime. Me sinto feliz em levar muita gente preta comigo.
6) Qual você acredita ser o maior desafio dos poetas/ autoras negras no mercado literário?
Assim, como em todos os âmbitos da sociedade, um dos maiores desafios dos autores negros, no mercado literário, é o racismo, é as pessoas terem interesse, gosto, confiança pelo que escrevemos.
E, aí realmente, só combatendo muito o eurocentrismo e todas essas ideias de que a nossa forma de pensar, a nossa forma de ser, a nossa cultura que vem de África, que tem um bocado da latinidade, que ela pode ser vista como algo interessante, intelectual. E é só combatendo o racismo mesmo.
7) Como mulher negra, poeta, musicista e ativista, qual você acredita ser a importância do mês de novembro para o movimento negro e para literatura?
O mês de Novembro tem toda a importância, porque é onde se concentra essa efervescência de conteúdo, informação e eventos sobre negritude e racismo. Em homenagem ao quilombola Zumbi dos Palmares. Tem toda a importância, só não é força suficiente, para combater o racismo profundamente.
Afinal, é só um mês dos doze (o ano inteiro), que a gente precisa estar pautando essa questão. Então, eu vejo, sim, muita importância. Mas, também, não me sinto confortável de que a gente concentre os esforços para falar de racismo só no mês de Novembro.
8) Por fim, quais os seus projetos para o futuro? Existem outros livros nos seus planos?
Eu to com um projeto na música, que eu pretendo seguir ainda, por uns bons anos; lançar um álbum, dentro da cultura do hip hop (várias influências do rap, R&B, esse nicho). E em relação à literatura, eu tenho a intenção de lançar um livro infantil, que é ilustrado em parceria com o artista, Formiga, um grande irmão meu. E, também, tenho o projeto de lançar outro livro de poesia. Dessa vez, ilustrado por mim. Por enquanto, é só.
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