A intelectualidade nunca se restringiu ao pensamento masculino e branco, porém, nas últimas décadas, foram estes que tiveram holofotes. Agora, cada vez mais, as mulheres negras tem disputado um lugar que sempre lhes foi de direito. 

Aqui na Letramento, temos diversas autoras incríveis que trazem debates importantíssimos e contribuem para pesquisas que são capazes de transformar o espaço que hábitos em sociedade. Nesse post, reunimos 3 livros de intelectuais negras que você precisa conhecer. 

1. Intelectuais Negras Brasileiras - Ana Claudia Jaquetto Pereira.  

Doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ, Ana Claudia foi bolsista Capes/Fulbright (2012-2013) e estudou na Universidade de Maryland, sob supervisão de ninguém mais ninguém menos que Patricia Hill Collins.

 Desde 2009, Ana atua em ONGs e organismos internacionais na temática de políticas públicas e gênero e raça. Em 2019, ela publicou seu primeiro livro com a Letramento, Intelectuais Negras Brasileiras: horizontes políticos, com prefácio de Patrícia Hill Collins. 

Capa da obra: 

Baseado em sua tese de doutorado, a obra traz, por meio da análise de textos escritos e entrevistas com as ativistas, uma síntese dos elementos principais do pensamento político de intelectuais negras. 

Recentemente, a emergência dos estudos de gênero, raça e classe tem contribuído para chamar atenção para as injustiças a que estão submetidas as mulheres negras.  Mas poucas pesquisas se dedicaram às formas de resistência e às propostas de transformação produzidas por este grupo como faz Ana Claudia.

Sua obra mostra que, ao refletir sobre o contexto em que vivem, as militantes do movimento de mulheres negras brasileiras foram capazes de criar um pensamento social e político original.  Apresentando vozes de intelectuais até então marginalizadas, o livro oferece uma perspectiva inovadora para o debate global sobre interseccionalidade, com contribuições para quem quer entender o Brasil contemporâneo e mudar o mundo.

2. Casamento e Mulheres Negras - Julia Drummond

Julia Drummond nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 15 de julho de 1992. Morou em Natal/RN dos 13 aos 19 anos e se mudou para São Paulo em 2011, onde concluiu o curso de direito na Universidade de São Paulo e ajudou a fundar o coletivo antirracista Quilombo Oxê. 

Hoje, com 27 anos, é advogada, pesquisadora e mestra em Direitos Humanos pela USP. Inspirou-se na luta antirracista e feminista para escrever a dissertação de mestrado, fruto também da sua afinidade com o direito de família. Sente falta do calor do Rio, mas se resignou com a loucura paulistana, onde mora com seus 3 gatos.

Com uma escrita forte e sincera, Julia rompe as barreiras do que conhecemos como saber acadêmico através de um criterioso e sensível estudo. É pioneira ao investigar de que maneira as mulheres negras são protegidas, ou não, pelo Direito de Família brasileiro e suas expectativas familiares.

A autora realizou um levantamento bibliográfico e pesquisa qualitativa para perguntar às mulheres negras como constituem suas relações afetivas, quais são suas demandas familiares atuais e qual a qualidade do seu acesso à Justiça.

Capa da obra: 

Para quem o Direito de Família foi pensado? E quais tem sido as consequências da sua aplicação? Pensando nisso, Julia dos Santos Drummond escreveu Casamento e mulheres negras, fruto de sua dissertação de mestrado, para você, estudante negra (o) de direito ou não.

A cadência de sua escrita, afiada e envolvente, denuncia os arroubos vividos por mulheres negras através da história e delineia os caminhos da construção do que se entende por afetividade. A autora fala em primeira pessoa e alcança a subjetividade de todas, construindo um diálogo que a permite produzir ciência e falar sobre e para si mesma. É desta reflexão magnética que nascem novos saberes.

3. Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça - Rení Eddo-Lodge

Reni Eddo-Lodge é uma premiada jornalista britânica. Ela já escreveu para o New York Times, the Voice, Daily Telegraph, Guardian, Independent, Stylist, the Pool, Dazed and Confused, e New Humanist. Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça é seu primeiro livro.

Em 2014, ela escreveu sobre suas frustrações a respeito da forma como as discussões sobre raça e racismo no Reino Unido estavam sendo lideradas por aqueles que não eram afetados por isso. Ela postou um texto em seu blog, com o título: Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça.

Suas palavras atingiram em cheio. O post viralizou e chegaram comentários de outras pessoas desesperadas para compartilhar suas próprias experiências. Impressionada com essa explícita necessidade de uma conversa franca, ela decidiu se aprofundar na fonte desses sentimentos. 

Explorando questões desde a erradicada história negra até o propósito político da dominância branca, do feminismo branqueado até a intrínseca relação entre classe e raça, Reni Eddo-Lodge proporciona uma oportuna e essencial estrutura nova de ver, reconhecer e combater o racismo.

Capa da obra:

O post deu origem a um livro que foi considerado o livro mais influente escrito por uma mulher em 2017 e nomeado como um dos top 20 livros escritos por mulheres que mudaram o mundo. Reni Eddo-lodge também venceu o Jhalak Prize de livro do ano, o Foyles' Books of the Year e Non-fiction: Narrative award do The British Book Awards. Personalidades como Emma Watson e Brie Larson já se mostraram fãs do livro, compartilhando-o algumas vezes em suas redes sociais e adotando-o em clubes de leitura. Emma Watson, inclusive, entrevistou a autora a respeito do livro.

Reni Eddo-Lodge fala sobre privilégio branco, racismo estrutural e institucional, feminismo negro, interseccionalidade, lugar de fala e diversos outros conceitos presentes em pautas atuais. Com uma linguagem acessível, a autora traz à tona a questão do racismo como poucos livros foram capazes de fazer. Uma leitura atual, enriquecedora e imprescindível.

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