Entrevista com uma revisora: Lorena Camilo

junho 02, 2020


A revisão de um livro é  uma das etapas mais importantes para garantir a qualidade editorial de uma obra. Se um livro apresenta muitos problemas na revisão, logo não será um produto final de qualidade. Por isso, os profissionais dessa área se dedicam todos os dias para lapidar diversas obras de gêneros e estilos diferentes. 

Você já parou pensar em como funciona o trabalho de um revisor? Com o intuito de explicar um pouco mais sobre esse trabalho minucioso,  convidamos a nossa revisora Lorena Camilo para uma pequena entrevista. Nela, ela nos revela um pouco sobre sua trajetória e curiosidades do seu ofício. 

Com uma carreira que começou há poucos anos, Lorena já tem no currículo a revisão e preparação textual de diversos livros marcantes. Recentemente, revisou os best-sellers internacionais: Anoréxica e Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça.

Confira a entrevista: 


Você sempre quis trabalhar com preparação/revisão textual? Como iniciou sua carreira no mercado editorial?

Não necessariamente com revisão textual, mas, sim, em um local em que pudesse trabalhar diretamente com textos, em seus diferentes gêneros.

Acho pretensioso, atualmente, dizer que possuo uma carreira no mercado editorial, uma vez que comecei a exercer essa profissão há poucos anos. Digamos, então, que essa carreira está em construção.

Sou graduada em Letras com dois bacharelados, um Estudos sobre Edição e o outro em Estudos Literários. Logo, o universo literário sempre esteve presente na minha vida, e escolher esse curso foi para me envolver ainda mais, além de descobrir como funciona todo o seu processo. 

Portanto, tudo começou quando comecei a ter contato direto com o processo editorial como estagiária voluntária no Laboratório de Edição (Labed) da Faculdade de Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e, posteriormente, durante dois anos no Grupo Editorial Letramento.

Muita gente acha que preparação de texto e a revisão são a mesma coisa. Qual a diferença?

Gosto bastante da metáfora que o profissional do texto, seja ele o preparador ou revisor, são pessoas que estão lapidando um diamante bruto.

No caso, o diamante é o texto que recebemos, que, primeiramente, passará pelo preparador, que será responsável por cuidar dos aspectos gramaticais do texto – acentuação, ortografia, vocabulário e sintaxe –, dos aspectos formais – uma série de critérios de padronização cujo objetivo é dar ao texto uma apresentação racional e uniforme de acordo com seu gênero –, dos aspectos semânticos – sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados da narrativa –, inserindo comentários com sugestões de edições para o autor.

Já o trabalho do revisor será após o autor ter visto, respondido, aceitado e/ou recusado as sugestões da fase do preparador. O revisor será o profissional que receberá o texto já lapidado, mas que irá dar os retoques finais para que o diamante esteja reluzente.

Como funciona o trabalho de um preparador de livros, e de um revisor? Consegue resumir para gente?

O trabalho do preparador e revisor é um ofício solitário, pois é somente o profissional e o texto. Entretanto, o trabalho do preparador tem um diferencial, ele dialoga com o editor e com o autor, e dependendo de como funciona a editora, até mesmo com o profissional responsável pela diagramação e realização da capa, uma vez que teve contato com o texto, sabe de todo o seu conteúdo e pode auxiliar em algumas questões estéticas, por exemplo tabelas, quadros, e até mesmo a capa do livro.

Na sua opinião, qual é a maior responsabilidade do revisor de um livro? E qual é o maior desafio no dia a dia?

Para mim, a maior responsabilidade é tornar o texto acessível. É pensar no que pode sugerir ao autor para tornar a leitura mais coerente, coesa, agradável, fluida pensando nas inúmeras pessoas que irão escolher ou que, por ventura, terão que ter contato com aquele texto.

O maior desafio é justamente racionalizar essa acessibilidade, porque é preciso parcimônia ao sugerir edições, e, principalmente, como irá fazê-lo. Digo isto porque todas as sugestões serão enviadas para o autor, que irá aceitar e/ou recusar. Nem sempre essa pessoa estará de acordo com as sugestões, como também pode haver situações em que ela seja egocêntrica e, infelizmente, desrespeitosa com o seu trabalho. Essa parte pode ser difícil, pois cada um tem uma personalidade, né?

Tem algum livro que você revisou que marcou muito a sua carreira? 

Vários, e por diferentes motivos. Nos meus primeiros meses de estágio para a Letramento, participei do grande processo editorial do livro 100 melhores filmes brasileiros, logo tive a oportunidade de preparar o original, ter contato direto com o organizador, contatação dos detentores dos direitos autorais das imagens, e diálogo com o profissional pela diagramação.

 Foi desafiador e me trouxe um grande aprendizado, pois tive que lidar com muitas pessoas, e não somente com o texto.

Recentemente a Letramento publicou Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça e Anoréxica, em que tive a oportunidade de participar da preparação e revisão. Então quando recebi do editor a notícia de que iria fazer parte da editoração de dois best-sellers internacionais eu fiquei bastante feliz e empolgada, porque são temáticas bastante humanas, sociais e políticas que precisam ser lidas, faladas e debatidas em todo o mundo, ainda mais aqui no Brasil.

Qual o seu gênero literário favorito para revisar? E qual o mais desafiador?

Isso é bem relativo, porque não escolho qual é o original que irei preparar e revisar. Então, por exemplo, posso receber um original de um gênero literário que mais me agrada ou que tenho facilidade, mas a escrita e a temática não me instigarem. Isso também vale para o gênero desafiador, porque se o conteúdo me cativar, não haverá desafio.

Para você, qual a importância de um revisor ter interesse pessoal no assunto que está revisando?

É interessante quando o profissional já possui um interesse pessoal com a temática do texto no qual está revisando, porque as chances de conhecer e estar familiarizados com, por exemplo, termos técnicos e demais informações agilizam e enriquecem o processo, além de facilitar o diálogo entre o profissional e o autor.

Como você trabalha? Durante a revisão, você usa alguma ferramenta especial?

Eu estabeleço um horário em minha rotina, vou para um local silencioso, que não haja distrações para me concentrar apenas na leitura. Durante o meu trabalho, além do computador, minhas ferramentas, eu diria que são: dicionários de regência nominal e verbal, gramática, e sites de pesquisas, tanto para a linguagem quanto para conferir dados, informações bibliográficas, culturais e etc.

Como funciona a leitura de livros em lazer para você? Está sempre procurando por errinhos aqui e ali?

Com certeza há, para todos os profissionais do texto, uma vida antes e depois de trabalhar com o texto. Porque, por exemplo, essa questão dos errinhos, nós não os procuramos, eles nos saltam os olhos.

Então, nesse momento, particularmente, respiro e sigo minha leitura. Pois eu sei o quão é difícil ter um livro sem um erro sequer, tanto que nos preocupamos e, muitas vezes, “sofremos” por nós mesmos encontrarmos ou quando ficamos sabendo de algum errinho que passou em algum texto em que trabalhamos. Mas nesse momento eu penso: nós preparadores e revisores somos humanos que tentamos ao máximo lapidar o texto, não somos máquinas.

Para finalizar, qual seria seu conselho para jovens acadêmicos e estudantes que pretendem seguir a carreira de revisor de livros? Como se especializar e o que fazer?

Meu conselho é o que eu gostaria de ter lido/ouvido quando era uma jovem acadêmica e estudante: para ser um(a) bom profissional do texto não é extremamente necessário que você seja o(a) melhor e saber tudo sobre gramática, padronização e etc., mas, sim, que você tenha bastante humildade em reconhecer o que não sabe, e estar sempre disposto(a) a se atualizar, estudar e pesquisar – e, em muitas ocasiões, estudar e pesquisar o mesmo conteúdo diversas vezes – para tornar o texto que está trabalhando melhor para o outro, ou seja, para o leitor.

Não será somente na faculdade que se aprenderá a preparar e revisar os textos, apenas a prática. Portanto, busque e invista ao máximo em estudar, adquirir materiais de apoio, em dialogar com outros profissionais da área e em cursos de extensão. Isso somado a humildade, já é grande passo.  


Curtiu a entrevista? Comenta aqui embaixo se tiver mais alguma dúvida sobre revisão textual! Além disso, caso queira conferir outras entrevistas com profissionais do mercado editorial, clique aqui! Entrevistamos o tradutor Leonardo Pinto Silva!

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