Poesia em tempos de quarentena
maio 19, 2020
Não sei se dá pra ver mais estrelas nesses dias ou se tenho olhado mais pro céu preso lá fora através das grades da janela. Se tenho recriminado a poesia enquanto tudo é caos ou se a poesia seria chance de sair do caos, mas o mundo precisa de mais do que palavras bonitas. E é difícil encontrar as palavras certas quando tudo parece errado.
Uma pandemia lá fora. O medo parece nos sabotar enquanto precisamos de coragem, mas ter medo é uma das formas mais instintivas de se proteger. Uma pessoa muito querida uma vez me disse que a ansiedade antes de nos cegar nos faz enxergar nossos medos e entender o que nos assusta. Tentei evitar as notícias, mas escapismo só é interessante nas páginas dos livros românticos. Não dá para fugir quando a realidade grita.
Nos últimos meses tem sido difícil escrever, por motivos mil. Eu penso muito sobre o lugar dos artistas, as dificuldades, a cobrança desonesta que existe de ser produtivo e aproveitar o “tempo livre” para criar. Em tempos ditos normais já não é fácil manter uma rotina organizada, ser produtivo, divulgar nosso trabalho, cuidar de nós mesmos. E pelo menos para mim, tem sido difícil produzir algo bom enquanto na TV da sala o número de mortos cresce e a política brasileira desmorona.
As vezes eu penso que é até hipocrisia escrever lindas palavras sobre como é lindo o céu da tarde ou as borboletas que dançam no estômago, então me lembro que fazer arte, em um contexto de tanta desvalorização, é por si só um ato político. De qualquer forma o que produzimos agora será atravessado pelo momento que estamos vivendo. O que tenho tentado, então, é escrever de forma mais consciente.
Temos que nos cuidar, sim, respeitar as recomendações da OMS(importante lembrar quando tentam furar a quarentena de diferentes e estúpidas formas) nos conectar com quem somos, o que acreditamos, respeitar nosso tempo, nossas limitações. Mas tenho me policiado bastante para não cair no limbo, viver só de marasmo e dizer que é pelo bem da saúde mental. Pequenos esforços fazem a diferença, por mais difícil que seja tomar as rédeas de si mesmo.
O panorama como um todo é preocupante e é inevitável enxergar o futuro por lentes pessimistas, mas existem milhares de clichês que nos ajudam a dizer que nada é pra sempre e todo sofrimento é temporário.
Camila Araújo escreve o que não cabe no peito, faz as coisas pequenas-grandes que marcam os dias comuns ganharem cor e tom. Pisciana, é estudante de Letras e já fez de tudo um pouco até se encontrar na escrita. O projeto Maré Cheia surgiu em 2017 como uma página no Facebook, uma forma de publicar seus poemas e divulgar os textos que antes ficavam guardados a sete chaves. Das redes sociais para o papel, a Maré de Camila cria, transforma e transborda. Maré Cheia foi seu primeiro livro!
1 comentários
Incrível, amo os textos da Camila
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