ENTREVISTA: Priscila Pacheco
março 31, 2020
Poético, Dançar na beira do abismo reúne contos que versam sobre fugidio do cotidiano. São histórias de rostos e sentimentos que encontramos e perdemos pelos dias, com uma narrativa que explora fragmentos, momentos, detalhes e frações da vida que são conectadas entre o presente, passado, futuro.
Com 22 contos inéditos, Priscila Pacheco nos apresenta um texto delicado e, ao mesmo tempo, forte que nos faz querer sair imediatamente de nossa zona de conforto para explorar a vida ao nosso redor.
A autora é jornalista de Porto Alegre, e é apaixonada por literatura e escrita. Ler, escrever, viajar e observar a vida cotidiana de lugares desconhecidos estão entre as coisas que mais gosta de fazer. Convidamos Priscila para uma pequena entrevista em que ela nos conta um pouco sobre o processo criativo da obra e curiosidades sobre si mesma. Confira:
O que o leitor pode esperar de Dançar na Beira do Abismo?
Narrativas breves, talvez mais curtas se comparadas a um formato mais tradicional de conto, mas que evocam de forma ao mesmo tempo intensa e sutil os sentimentos perdem no passar dos dias. A passagem do tempo é um elemento bastante presente, junto aos encontros e desencontros que vêm com ela. Em conjunto, o livro propõe essa dança entre momentos, detalhes, fragmentos de vida em meio à rotina.
Seu livro Dançar na Beira do Abismo, que está em pré-venda no site da Letramento, é uma obra de contos. O que você vê de especial neles? Qual o diferencial desta narrativa na transmissão de mensagens?
Gosto de chamar de "narrativas breves" porque talvez a palavra "conto" gere uma expectativa diferente do que os leitores e leitoras vão encontrar – e acredito que seja justamente esse um dos diferenciais. Uma temática que perpassa talvez todo o livro é a passagem do tempo, e a brevidade das histórias tem a ver com isso. O caráter fugidio do cotidiano, o que está ali e de repente não está mais, as pequenas sutilezas e os pequenos "sentires" que permeiam e se perdem em nossos dias, em meio a afazeres e rotinas. Tudo isso está retratado no conteúdo e também na estrutura de cada história.
Quais foram suas maiores influências literárias?
Felizmente elas mudam ao longo da vida – de repente leio pela primeira vez um autor ou autora que ainda não tinha lido e ele ou ela se tornam uma referência naquele período da minha vida. Isso acontece bastante. Mas um nome sempre muito presente pra mim é o Borges, Jorge Luis Borges. Pelas temáticas, pela escrita simples e pela humildade ao escrever, mesmo se tratando de alguém com a carga de conhecimento que ele tinha. Nunca me canso de ler o Borges, em qualquer formato, ensaios, contos ou poemas. E outro cada vez mais presente é o Valter Hugo Mãe, pelas imagens que ele cria escrevendo prosa com tanta poesia. E, junto com eles, também tento acompanhar, na medida do possível, pessoas escrevendo no Brasil/em português hoje, conhecidas ou não, homens ou mulheres. É a nossa língua, e para escrever com ela é fundamental ler quem também escreve com ela.
De que forma os contos da sua obra se relacionam com sua vida e sua rotina?
É uma relação da ordem das coisas não ditas, que acaba no momento em que cada conto é escrito. Muitos elementos dentro das histórias foram retirados ou inspirados na minha experiência com o mundo – um cenário, uma situação, um trecho de um diálogo. Mas, a partir do momento em que passam a integrar uma narrativa, esses fragmentos deixam de me pertencer para se tornar outra coisa – ficção.
Como você se descobriu uma contadora de histórias?
Talvez tenha sido mais um processo do que um momento único, e eu nunca tinha parado para pensar a respeito até ler essa pergunta. Na minha experiência, a escrita é consequência de duas necessidades: a de organizar pensamentos, e por isso escrevo diários, e a de inventar histórias para contrapor a insuficiência da (minha) realidade. Nos dois casos, estou contando histórias de alguma maneira – no primeiro, histórias minhas para mim mesma; no segundo, histórias inventadas para quem desejar ler. Acredito que nos tornamos contadores de histórias a partir do momento em que, seja do modo que for, isso se torna parte do nosso dia a dia.
Quais leituras foram fundamentais para sua formação?
Não sei existe uma leitura específica. Acredito que, para escrever (e não só para escrever, na vida de forma geral), o fundamental é ler. Seja o que for. E quanto mais diversas forem as leituras melhor – em estilos, tempos, formatos, nacionalidades, temáticas.
Por fim, depois de lançar Dançar na Beira do Abismo tem pretensão de publicar outras obras?
Tenho um romance já escrito. Embora a realização de escrever, para mim, seja mais importante, tenho, sim a intensão de publicá-lo. A publicação é como um rito – o encerramento de um projeto importante que abre espaço para o início de um novo. Mas, independentemente de publicar ou não, a pretensão maior é a de continuar escrevendo. Quem sabe o que mais pode surgir no futuro, não é?
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