20 livros para refletir sobre raça
novembro 04, 2019
Como todos sabem, o mês de Novembro é marcado pelo dia Consciência Negra (20). Está data foi escolhida para coincidir com o dia atribuído à morte Zumbi dos Palmares, líder quilombola, um dos pioneiros na resistência contra a escravidão no Brasil.
Para homenagear um mês tão importante, dedicado a reflexão sobre a negritude na sociedade brasileira, o Grupo Editorial Letramento fez uma seleção de títulos imperdíveis que tratam de temáticas raciais.
Acreditamos na pluralidade de pensamentos e vivências, uma vez que a representatividade na literatura é uma ferramenta poderosa de conhecimento e transformação social. Vamos falar um pouco sobre raça? Confira só nossas indicações:
Não podíamos começar essa lista, se não por esse livro incrível! Em 2014 a premiada jornalista Reni Eddo-Lodge escreveu sobre suas frustrações a respeito da forma como as discussões sobre raça e racismo no Reino Unido estavam sendo lideradas por aqueles que não eram afetados por isso. Ela postou um texto em seu blog, com o título: Por que eu não converso mais sobre raça com pessoas brancas.
Suas palavras atingiram em cheio. O post viralizou e chegaram comentários de outras pessoas desesperadas para compartilhar suas próprias experiências. Impressionada com essa explícita necessidade de uma conversa franca, ela decidiu se aprofundar na fonte desses sentimentos. Explorando questões desde a erradicada história negra até o propósito político da dominância branca, do feminismo branqueado até a intrínseca relação entre classe e raça, Reni Eddo-Lodge proporciona uma oportuna e essencial estrutura nova de ver, reconhecer e combater o racismo.
2) Racismo Linguístico: Os Subterrâneos Da Linguagem E Do Racismo
Escrito de forma acessível e didática, este livro será de imenso interesse não apenas para estudiosos da linguagem, mas todos os que querem entender melhor a complexidade da desigualdade racial no Brasil. Com sua análise original da relação entre língua e racismo, Gabriel Nascimento aborda um tema quase totalmente ausente da linguística brasileira, se posicionando de forma lúcida e engajada nos debates de intelectuais negros, muitas vezes esquecidos, e mostrando suas contribuições para uma visão mais inclusiva da linguagem dentro da sociedade brasileira.
De fato, a grande novidade da obra de Nascimento é de mostrar tanto as ausências da linguística tradicional quanto as pistas para uma renovação dessa área, dando continuidade ao projeto anticolonial de autores clássicos como Franz Fanon e à crítica decolonial contemporânea, que está transformando debates acadêmicos e políticos ao redor do mundo. Assim, este livro se insere numa virada importante na ciência e sociedade brasileira, que somente agora está começando a encarar a força estruturante de categorias raciais.
A partir da inserção em movimentos de militância e por meio da participação em redes sociais, o autor passou a acessar narrativas que abarcavam a interseccionalidade de raça, gênero, sexualidades e comportamento suicida, permitindo então problematizar a invisibilidade do tema na literatura científica.
Tendo como base conceitos como epistemicídio, colonialidade do saber, dispositivo de racialidade, racismo epistêmico, branquitude e heteronormatividade, o autor descreve o modo como a literatura científica sobre o suicídio ignora a interseccionalidade com os marcadores de raça, classe e gênero, e os efeitos político-científicos desse silenciamento.
Em todo o país trabalhadoras domésticas enfrentam todo o tipo de abuso de uma sociedade que ainda reproduz comportamentos coloniais. Preta-Rara viveu isso na pele. Em seu primeiro livro, ela traz um desabafo se tornou o pontapé para um movimento de libertação e consciência. A obra reúne alguns relatos de experiências vividas por empregadas domésticas em todo o país. Nomes de peso ajudam a dar ainda mais força para o projeto. Taina Aparecida Silva Santos escreve o prefácio e Benedita da Silva assina o texto de orelha.
A emergência dos estudos de gênero, raça e classe tem contribuído para chamar atenção para as injustiças a que estão submetidas as mulheres negras. Mas poucas pesquisas se dedicaram às formas de resistência e às propostas de transformação produzidas por este grupo. Intelectuais negras brasileiras: horizontes políticos mostra que, ao refletir sobre o contexto em que vivem, as militantes do movimento de mulheres negras brasileiras foram capazes de criar um pensamento social e político original.
Por meio da análise de textos escritos e entrevistas com as ativistas, a autora sintetiza os elementos principais deste pensamento. Apresentando vozes de intelectuais até então marginalizadas, o livro oferece uma perspectiva inovadora para o debate global sobre interseccionalidade, com contribuições para quem quer entender o Brasil contemporâneo e mudar o mundo.
O
debate da política sobre drogas desde uma perspectiva antiproibicionista tem
ganhado folego no Brasil, sobretudo na última década. O fracasso da política
proibicionista de guerra às drogas têm sido confirmado nas estatísticas de
letalidade, encarceramento, e na crescente violência do comércio ilegal de drogas
com uma geopolítica mundial, além de notadamente não ter sequer cumprido com o
seu objetivo principal que era erradicar as drogas das sociedades.
Esta política que se ancora na guerra às
drogas embora prejudicial para toda a sociedade , não atinge em mesma escala
todos os brasileiros. É plenamente verificável na realidade uma disparidade ao
que tange as vitimas desta guerra, onde a letalidade desta guerra atinge em
maior intensidade a juventude negra. Neste
sentido cabe a pergunta que este livro apresenta quem é o inimigo desta guerra?
Entre o silêncio e a negação analisa o trabalho escravo contemporâneo sob a ótica da concretização do trabalho livre para a população negra, de modo a compreender os limites impostos pelo racismo na determinação do acesso deste grupo ao trabalho em condições dignas, segundo os parâmetros estabelecidos pelo Direito do Trabalho.
Busca-se demonstrar a relevância do legado da escravidão colonial para compreender a negação de direitos trabalhistas aos trabalhadores negros, bem como para explicar a vulnerabilidade destes ao trabalho em condições análogas às de escravo no Brasil. A partir desses aportes, tenta-se apreender de que maneira esses fatores se apresentaram na CPI do Trabalho escravo da Câmara dos Deputados (2012).
Esta obra é um indicativo claro do movimento dos corpos negros de se colocarem como protagonistas de suas histórias e de suas teorias e de toda a potência que isso comporta. No livro a autora demonstra, não apenas como o empreendedorismo é um fator de libertação, cura e valorização racial e cultural, como também, como o próprio ato de escrever e publicar sobre todas essas questões faz com que os autores e as autoras negras abram espaços centrais de reflexão e de novas abordagens e metodologias. Livro de uma autora promissora nas discussões do direito público, dos direitos fundamentais e de como estes são perpassados pelas questões de raça, classe e gênero.
O livro aborda a tematização do racismo e das questões raciais no momento que inaugura as possibilidades de interlocução entre sociedade civil e instituições formais do Estado Brasileiro: a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) de 1987-1988.
Através do estudo da atuação do movimento social na ANC e do balanço das inclusões e exclusões de dispositivos na Carta Constitucional são apontados os desafios do tratamento da temática pelo Estado brasileiro, tarefa relevante passados exatos 30 anos da promulgação da Constituição brasileira, 40 anos de fundação do Movimento Negro Unificado e 130 da abolição da escravatura no Brasil.
Este livro realiza uma análise sobre a escravidão, o racismo e a intolerância religiosa no Brasil. Demonstra toda a violência institucionalizada em um país que apesar de conter a laicidade religiosa em sua Constituição, não pratica o respeito aos povos em diáspora africana.
A escravidão deixou marcas que ainda são sentidas por seus descendentes, a inercia e omissão dos poderes, legislativo e judiciário, na proteção da população negra do Brasil, inclusive sua religião. Demonstrar que intolerância religiosa é na verdade racismo, um racismo religioso, compreendido pelo ódio de tudo que é relacionado a cultura negra.
Um livro-reportagem, seis protagonistas e uma história: a de mulheres negras brasileiras. Um livro sobre identidade racial, abandono, solidão afetiva, memórias e resistências. A breve história de seis mulheres negras, de seis gerações diferentes, mas de uma mesma família: Eu, Preta.
"Em um céu de nuvens feitas de algodão branco, branquíssimo, mãos escuras tentam alcançá-las. Mas é preciso cuidado para não manchar. Não pode sujar. Não pode roubar a pureza que há na cor. Fatalmente, as mãos negras de Preta ficam sujas tocando nuvens tão repugnantemente alvas."
Que leveza busca Vanda é uma investigação sobre as emoções e sentimentos relacionados à lida com os cabelos crespos vivenciada por mulheres residentes em Brasília e em Maputo. Embora tenham histórias e experiências muito diferentes umas das outras (cada experiência com as formas de lidar com os cabelos é singular tanto entre mulheres brasileiras quanto entre mulheres moçambicanas), elas tem em comum a lida com os cabelos crespos.
Cabelos são uma parte do corpo maleável pela cultura e, sendo facilmente manipuláveis, carregam em si muitos significados. Cabelos trazem emoções fortes ao serem cortados, alterados, trabalhados. Cabelos possuem força e provocam sentimentos fortes naqueles que os portam. São uma parte do corpo que mobiliza emoções. É sobre essas emoções e sentimentos despertados pelo trato com os cabelos que Que leveza busca Vanda aborda.
Pensar o feminismo dentro da periferia de São Paulo é enxergar as diferentes vivências que se misturam e se fortalecem numa junção do individual com o coletivo. Essa caminhada é de longa data, desde nossas ancestrais, avós, mães, tias e tantas outras mulheres com quem convivemos. Aqui queremos registrar um importante fragmento de histórias que, até então, foram silenciadas por uma estrutura sistemática que nos oprime e violenta. Somos o emblema de resistência para uma geração que busca suas memórias para se fazer presente.
Esse livro é baseado no feminismo interseccional, tratando questões de gênero, raça e classe. Contamos com a história de sete mulheres moradoras das periferias de São Paulo: Tula Pilar, Ana Paula Nascimento, Marilu Cardoso, Aline Anaya, Jéssica Moreira, Giovana Tazinazzo e Bea Andrade. E, apesar de termos feito este livro por e para as mulheres, esperamos que as histórias aqui presentes possam servir como inspiração para reflexões de qualquer pessoa, independente da característica pessoal e social.
A obra aborda o conflito socioambiental, com foco em seu aspecto jurídico, que decorre da sobreposição de unidades de conservação da natureza em territórios quilombolas. O estudo tem como fio condutor o Direito Socioambiental e a questão é avaliada à luz da atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo com Comunidades Quilombolas na região do Vale do Ribeira e, portanto, a partir de uma experiência institucional e empírica específicas no âmbito do Sistema de Justiça.
É por demais significativa a obra de Gabriela Barretto de Sá não somente por trazer a sempre necessária pesquisa sobre a sociedade escravista do Século XIX no Brasil, registrando a precariedade da liberdade e a condenável instituição oficial da escravidão tratada pela legislação penal e pelos tribunais da época, bem como a aceitação da impunidade e do casuísmo da lei.
Sobretudo, o indiscutível retrato da situação histórica da mão de obra escrava no Rio Grande do Sul, com sua presença na formação sócio-cultural do Brasil Meridional, tradicionalmente apresentado como um cenário povoado por brancos e por migrações européias. A obra é rica por trazer, além de pesquisa baseada em estudos de casos (inquéritos e ações criminais apresentadas ao Poder Judiciário no RS, entre os anos de 1835 a 1874), uma investigação que, partindo do marco analítico da história.
Versos livres, como nós é uma coletânea de poemas afro centrados, focados nas experiências da negritude feminina, vindos da inspiração de diversas vozes que não querem mais ter sua negritude apagada. Dividido em três partes, EXISTÊNCIA, que apresenta poemas gerais sobre o cotidiano, ESSÊNCIA, o ser feminino e seus altos e baixos na busca de se encontrar, e CONVIVÊNCIA, as idas e vindas da busca pelo sentir-se amada, aborda sobre a sexualização do corpo negro, a solidão da mulher negra, a construção de uma identidade, a resistência aos padrões opressores e o amor ao próprio ser.
Comunicar. Interagir. Trocar. Aprender. Educar. Amar. Transformar. Revolucionar. À primeira vista, pode parecer que esses verbos nada têm a ver uns com os outros. No entanto, este livro busca unir esses infinitivos de modo a colaborar para a afirmação das identidades étnico-raciais brasileiras, dentro e fora da escola, por meio de práticas educomunicativas possíveis e da construção coletiva de histórias de vida protagonizadas por adolescentes da cidade de São Paulo.
Brava Gente é uma coletânea de poemas que refletem o cenário político e cultural da atualidade brasileira. Com sátiras perspicazes e crítica aguçada, Aline Carvalho apresenta uma obra de resistência, cuja expressão artística se encontra tanto na forma, quanto em seu conteúdo.
As vozes-mulheres que fazem vibrar as estruturas do patriarcado, racismo e demais injustiças que formam as bases da sociedade brasileira, são empunhadas em Lutar é Crime. Ora com a fúria acumulada, ora com a leveza necessária para cultivar uma existência de afeto, apesar das feridas abertas. Com inspiração no grande mestre e conterrâneo Marcelino Freire, o título da obra entende que amar e lutar são verbos complementares, onde a atual realidade do Brasil cada vez mais engaiola o direito de reagir às desigualdades. Se lutar é crime, a expressão de condenada é, afinal, o que liberta.
Esta obra faz uma análise sobre a Teoria Racial Crítica, do direito norte-americano, e sua aplicação de acordo com a realidade brasileira. Discorremos sobre os quadros ideológicos de contestação racial para compreendermos a realidade material e ideológica atual em torno de raça e direito e sua relação com o tema Desigualdade Racial Midiática. Concluímos que a propriedade dos meios de comunicação no Brasil é racialmente concentrada e denominamos este fenômeno de Economia político-racial da comunicação.
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