Entrevista: Luiz Cláudio de Almeida Barbosa
outubro 29, 2019Em Nitrogênio: o sétimo elemento, Luiz Cláudio de Almeida Barbosa e Reinaldo Bertola Cantarutti falam sobre a história da descoberta desse elemento, bem como a evolução das pesquisas ao longo de mais de dois séculos que levaram à invenção de diversos produtos nitrogenados, incluindo a dinamite e o Viagra. Em entrevista exclusiva do Blog da Letramento, Luiz Cláudio de Almeida Barbosa expande ainda mais a discussão e mostra como a história desse elemento pode, sim, ser interessante para todo mundo!
Por que o Nitrogênio? O que esse elemento tem que merece mais destaque do que os outros?
Diversos elementos químicos, como ouro, prata, ferro e oxigênio, são mais comumente conhecidos, mesmo por pessoas sem formação mais sólida em química. O nitrogênio talvez seja menos conhecido, apesar do papel central e essencial em nosso cotidiano e na manutenção da vida na Terra. Na sua forma molecular mais ocorrente, N2, o nitrogênio compõe 78% da massa dos gases da atmosfera e, ainda que não seja precursor metabólico direto metabolizável nos processos primários da respiração, o nitrogênio é o quarto elemento mais abundante no corpo humano; é tão essencial para a nossa vida quanto o oxigênio.
De onde surgiu a ideia de escrever Nitrogênio - o sétimo elemento?
A Tabela Periódica dos Elementos Químicos é considerada uma das mais importantes sistematizações da ciência, com consequência importante em várias áreas, incluindo a própria química, mas também a biologia, física, geologia. Em razão dessa importância, a Unesco instituiu 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica (AITP). Como parte das atividades para celebrar o AITP, a Diretoria da Sociedade Brasileira de Química convidou-nos para escrever sobre um dos 118 elementos. Escolhemos discutir sobre o nitrogênio, em razão da sua grande importância para o meio ambiente, a agricultura, a indústria e para a sustentação de todas as formas vida.
Em quais lugares do dia a dia, que nunca pensaríamos, podemos encontrar o nitrogênio?
Em combinação com outros elementos químicos, o nitrogênio entra na constituição das proteínas, dos ácidos nucleicos (DNA e RNA), neurotransmissores e de vários outros compostos necessários à vida; é essencial para o crescimento das plantas e para o aumento da produtividade agrícola, pelo que constitui os fertilizantes aplicados em culturas agrícolas. O nitrogênio entra na constituição de grande número de produtos industriais essenciais para o nosso bem-estar, como medicamentos, produtos de limpeza, desinfetantes, agroquímicos, polímeros como o náilon e poliuretana, que formam uma extensa lista de produtos do nosso cotidiano.
O que o leitor pode esperar encontrar no livro?
O livro foi estruturado e escrito com foco no leitor interessado em história e nas ciências, mas que não necessariamente tem formação científica. Em função disso, o leitor vai encontrar na introdução, uma apresentação simples e direta sobre os elementos químicos, como são representados e como se unem para formar os compostos que constituem tudo o que existe na natureza. Todo o livro é permeado por uma perspectiva histórica, para destacar como o conhecimento científico foi construído no passado e como o acervo que se tem hoje sobre o nitrogênio e seus compostos foi sendo acumulado ao longo dos dois últimos séculos. O leitor vai também encontrar informações sobre compostos nitrogenados em medicamentos, como o Viagra, explosivos, adubos e muito mais.
Por que o livro é interessante para todas as pessoas?
Cada leitor pode ter interesse mais específico por um tipo de literatura, mas ciência também tem a face da cultura. Não se trata de um livro típico de química, mas tem como fio condutor a história de um elemento químico. Por isso, introduzimos alguns conceitos da química e dos compostos químicos, apresentando algumas formas de representação de compostos utilizada pelos químicos. A ideia é mostrar ao leitor que a química não é complicada como muitos a têm; é, de fato, uma ciência central da natureza. Por isso, o livro conecta história, química, biologia, meio ambiente, medicina, agricultura, entre outras. Entendemos que o livro seja interessante para o leitor não especializado ou iniciado em ciência, por mostrar a interligação entre essas várias áreas do conhecimento.
Qual uma curiosidade que vai surpreender os leitores em relação ao nitrogênio?
O livro é repleto de histórias surpreendentes, incluindo todo o relato da descoberta do elemento nitrogênio, feita por um médico escocês de apenas 23 anos de idade, em 1772. Um caso interessante é como a nitroglicerina, um explosivo empregado na fabricação da dinamite, passou a ser utilizada como medicamento para o tratamento de angina, ainda no século XIX e continua ainda a sê-lo. Mais recentemente, a pesquisa por novos medicamentos para o tratamento da angina, que não fossem explosivos, resultou na descoberta acidental do Viagra, um dos grandes sucessos da indústria farmacêutica.
Outras curiosidades incluem: como o nitrogênio foi liquefeito pela primeira vez e como o nitrogênio líquido é obtido nos dias de hoje; como o nitrogênio da atmosfera é transformado (fixado) em compostos utilizados pelas plantas e por todos os outros seres vivos; o trabalho pioneiro realizado pela pesquisadora brasileira Johanna Döbereiner, que resultou em tecnologias para o aumento da produtividade agrícola por meio da fixação biológica de nitrogênio; o papel central do jovem químico inglês Robert Le Rossignol no desenvolvimento do processo Haber-Bosch de produção de amônia em escala industrial; as implicações agronômicas e ambientais do uso de fertilizantes nitrogenados, etc.
Para essas e outras curiosidades, confira o livro Nitrogênio: o sétimo elemento e garanta seu exemplar hoje mesmo! Clique aqui.
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