Vamos falar sobre racismo linguístico?

agosto 27, 2019




O preconceito linguístico é assunto já bem explorado em livros e trabalhos anteriores no Brasil. Porém, quase nunca esse preconceito foi relacionado ao racismo.

Esse é o tema do livro “Racismo linguístico: Os subterrâneos da linguagem e do racismo” (Editora Letramento) é, segundo o autor, Gabriel Nascimento, uma tentativa de teorizar sobre a relação sempre íntima entre linguagem e racismo. 

Segundo ele, que é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e foi Visiting Scholar na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o racismo ganha corpo na língua. “A própria nomeação do que é o negro é um evento da modernidade, e se construiu através das línguas modernas”. 

“Além disso, as políticas linguísticas no Brasil foram construídas através do silenciamento, ora dos indígenas ao impor a eles o uso da língua portuguesa no século XVII, ora aos negros por meio dessa tragédia que foi o tráfico negreiro no Atlântico”. 

Para o autor isso é uma prova de que raça e colonialidade não poderiam se construir se não fosse o papel fundamental das línguas e da linguagem. 

Segundo o professor Joel Windle, pesquisador da Monash University e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro “aborda um tema quase totalmente ausente da linguística brasileira, se posicionando de forma lúcida e engajada nos debates de intelectuais negros, muitas vezes esquecidos, e mostrando suas contribuições para uma visão mais inclusiva da linguagem dentro da sociedade brasileira”. 

Ou seja, a linguagem, que durante muito tempo foi usada para as pessoas brancas e ricas mostrarem sua força e seu capital político, tem sido o mesmo instrumento para excluir pretos e pobres na escola e nas universidades. 

“O livro discute como essas identidades são racializadas e, por essa razão, apontam como a linguagem é espaço de produção e manutenção do racismo no Brasil”, completa Mariana Mastrella-de-Andrade, professora do Instituto de Letras da Universidade de Brasília. 

Para ela, “considerando que somos constituídos na língua em todo o tempo, neste livro encontramos argumentos para entender como fazemos coisas com a linguagem e fazemos, assim, a nós mesmas/os e às/aos outras/os, já que cada ato de fala é identitário por natureza”. 

O livro já está disponível no site da Editora Letramento e terá lançamento em breve em cidades como Salvador, Porto Seguro e São Paulo, além de eventos científicos. 



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