Como eu me descobri poeta

agosto 09, 2019


Acredito que dentro de cada um existe poesia. Cada um tem dentro de si a beleza e o poder de criar. Minha relação com a literatura começou cedo. Sempre fui uma leitora voraz, desde pequena era fascinada por livros, gostava de me imaginar personagem das histórias fantásticas que eu lia e pensar onde eu faria diferente, me emocionar com os finais felizes e chorar mais ainda com os tristes.

Na escola, português e literatura foram minhas matérias preferidas. Eu poderia passar todas as outras aulas com um livro escondido e a cabeça nas nuvens. Escrever me parecia um sonho distante, mas brincar com as palavras acendia um grande “e se?” luminoso e sedutor. Me descobri poeta ao longo da adolescência, com os nervos à flor da pele e as emoções querendo sair.

 A criança sonhadora deu lugar a uma jovem que queria escrever o que se passava dentro dela, compreender as mudanças que os anos traziam e traduzir o que sentia (e era demais,  diga-se de passagem). Foram muitas cartas de amor, sentimentos incompreendidos  e alguns textos no Tumblr, plataforma de blog que bombava no auge dos meus 14 anos.

Hoje, olho para os escritos da Camila adolescente e rio, mas esse período teve muita importância para descobrir que eu podia escrever e era isso que eu gostava de fazer.  Após a fase de histeria ultrarromântica, me encontrei nos poemas de autores como Drummond, Clarice, Cecília Meireles, Hilda Hist, entre tantos outros, e passei a entender que a poesia vem de dentro, do mais interno dos lugares que a mente viaja, onde o peito aquece e a alma diz, seja na beleza de rimas e métricas ou nos versos livres, rebeldes palavras sobre o papel.

Dois anos atrás, criei coragem para ser lida em uma página do facebook. Maré Cheia, também o nome do meu primeiro livro, foi onde encontrei a peça que faltava para qualquer poema: leitores. E recebendo elogios e críticas, conhecendo pessoas com  quem eu compartilhava o mesmo sonho, passei a acreditar mais em mim, a gostar mais do que eu produzia e me enxergar como escritora.

O livro veio de um processo criativo que durou alguns meses revisitando cadernos antigos, selecionando os poemas que diziam, escancarado ou nas entrelinhas, sobre o amor em todas suas formas. Gosto daquilo que toca, que faz pensar, que tem valor pra transformar. A poesia que não se externa se esquece, vira memória perdida entre tantas outras. Escrever é tecer no papel fios de pensamento que costuram ideias, momentos, sentidos que não existiriam por si só.

Eu costumo pensar que nossas escolhas fazem parte de quem somos e seremos. Dizem que toda escolha é uma renúncia, mas é também um novo leque de possibilidades que se abre a cada sim que dizemos para nós mesmos. A escrita faz parte de como me  conheço e como percebo o  mundo. Agora, curso Letras, escolha que mais pareceu certeza, e me divido entre os dois caminhos que me encantam: a literatura e a licenciatura. Caminhos ditos difíceis no Brasil que vivemos, mas extremamente importantes, já que a arte e a educação são historicamente espaços de resistência.

Hoje tenho certeza que não me enxergo em outro roteiro que não o do sonho de anos atrás.

Camila Araujo escreve o que não cabe no peito, faz as coisas pequenas-grandes que marcam os dias comuns ganharem cor e tom. Pisciana, é estudante de Letras e já fez de tudo um pouco até se encontrar na escrita. O projeto Maré Cheia surgiu em 2017 como uma página no Facebook, uma forma de publicar seus poemas e divulgar os textos que antes ficavam guardados a sete chaves. Das redes sociais para o papel, a Maré de Camila cria, transforma e transborda. 


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