Em todo o país trabalhadoras domésticas enfrentam todo o tipo de abuso de uma sociedade que ainda reproduz comportamentos coloniais. Preta-Rara viveu isso na pele. "Fui contratada para ser cozinheira e minha ex patroa me impediu de me alimentar com o que eu cozinhava, no outro dia trouxe marmita e ela me mandou embora dizendo que eu estava envergonhando ela perante uma visitante que me viu comendo no pote e a questionou", conta.

Indignada, Preta recorreu ao Facebook para expressar seu desabafo, compartilhando uma situação muito corriqueira para milhares de outras mulheres. "Como era um relato em primeira pessoa resolvi colocar a hashtag #EuEmpregadaDomestica e falei que se alguém tivesse relatos parecidos que colocassem também a hastag pra eu ler. Achei que teria relatos no passado mas para a minha surpresa em menos de 24h já tinha mais de 10 mil relatos na hashtag. Ali eu percebi o quanto era importante viralizar esse tema porque naquele momento existia trabalhadoras passando pelo o que eu passei."

O desabafo se tornou o pontapé para um movimento de libertação e consciência. A #EuEmpregadaDoméstica ganhou uma página própria para reunir tantos relatos e histórias que não cabiam mais no peito. Hoje, exatamente três anos depois, a página conta com mais de 4 mil depoimentos e 163 mil seguidores.

Agora, o que começou na internet toma forma nas páginas de um livro. Eu, Empregada Doméstica reúne alguns relatos de experiências vividas por empregadas domésticas em todo o país. "Foram dois anos de tentativas, fizemos um financiamento coletivo, porém não tínhamos alcançados o valor desejados, idas e vindas com diversas editoras e agora finalmente conseguiremos publicar esse sonho", desabafa Preta. "Lá em 2016, pela quantidade de relatos, eu logo pensei em um livro e ver que ele está pronto é de uma felicidade gigantesca", completa.

Segundo Preta-Rara, "o livro Eu, Empregada Doméstica é para todxs, é para as trabalhadoras domésticas, é para quem pesquisa o tema, pra patroa, patrão, estudante, gente comum, gente fora do comum, é pro filho e filha das trabalhadoras domésticas e para o filho e filha dos patrões também".

Nomes de peso ajudam a dar ainda mais força para o projeto. Taina Aparecida Silva Santos escreve o prefácio e Benedita da Silva assina o texto de orelha. A pré-venda do livro "Eu, Empregada Doméstica" se inicia no dia 29/07, segunda-feira no site da editora Letramento.