Entrevista: Julia Vargas
julho 31, 2019A Menarca é tida por muitas tradições originárias como um Rito de Passagem: o momento em que a menina se torna mulher. O livro "A menina que virou Lua" vem nos contar sobre sabedorias ancestrais - memórias antigas, há tanto esquecidas e caladas-, de um tempo em que sentíamos a honra, poder e orgulho de habitar um corpo feminino. Julia Vargas foi convidada por Morena Cardoso para ilustrar o livro e compartilha, em entrevista exclusiva, um pouco do processo de criação dos desenhos e a importância de ressignificarmos a menstruação. Confira!
Como surgiu a ideia de "A menina que virou Lua"?
Feito chuva de verão, a ideia do livro chegou para a Morena de repente, em uma enxurrada de inspiração noturna. Ela estava acampada na floresta de Oregon, nos Estados Unidos e posso imaginar as grandes árvores de Cedro sussurrando palavras de sabedoria em seus ouvidos.
Mas essa não é uma iniciativa pontual, faz parte de uma corrente de mulheres ao redor do mundo que estão despertando para uma nova consciência feminina.
Juntas estamos curando feridas antigas e limpado padrões negativos que afetam a nossa relação com o corpo feminino, com a menstruação e com a sexualidade.
Como foi a sua primeira menstruação?
Simbólica. Apesar de na época não ter me dado conta disso.
Eu estava em um encontro de danças circulares onde havia mais de 100 mulheres reunidas, de todas as idades.
Minha mãe, minha irmã e minha melhor amiga estavam presentes.
Após girar e girar, de mãos dadas, naquela grande roda, recebi o meu sangue e me tornei mulher.
Como você viu a menstruação na sua primeira vez e como você a vê agora?
Eu a via com estranhamento.
Sabia que era algo intrínseco à ser mulher, e não lutava contra isso, mas não amava o meu sangue e não tinha relação nenhuma com o meu útero, mal sabia localizá-lo em meu ventre.
Na sala de aula a menstruação era um tabu e eu morria de vergonha de pedir absorvente emprestado ou ser vista com um nas mãos.
Hoje amo esse líquido vermelho sagrado e passei a devolvê-lo para a terra, nutrindo as minhas ervas medicinais e criando meus próprios rituais de autoconhecimento e conexão com a natureza.
O que te fez olhar para a menstruação de outra forma?
O contato com outras mulheres!
Em minhas andanças ao redor do mundo tive a honra de conhecer mulheres incríveis, que compartilharam comigo sementinhas de consciência e me apoiaram sempre que eu precisei.
A Morena Cardoso foi uma delas, com sua poderosa ferramenta “danzamedicina” e seus textos revolucionários.
A Sofia Espanion (grande amiga e estudante de obstetrícia) foi outra, ela quem me apresentou o “Manual de introdução à Ginecologia Natural”, que contém tanta sabedoria acerca do nosso corpo.
Me apaixonei pelo estudo da ginecologia e da parteria e pouco a pouco fui mudando a relação com a minha menstruação. Hoje a vejo como um período de grande potência intuitiva e criativa.
A ayahuasca também foi fundamental para a minha reconexão com o útero, meu centro de poder. Essa planta sagrada permitiu que eu mergulhasse dentro dele, e voltasse de lá com uma nova consciência.
Por que é importante que as mulheres ressignifiquem a sua menstruação? ✨
O feminino foi, e segue sendo, muito oprimido pela sistema patriarcal. Nos desconectaram do nosso corpo e da natureza, contaminando a nossa visão sobre nós mesmas com culpa e medo.
Mulheres que cultuavam a natureza e conheciam as propriedades medicinais das plantas (as parteiras, raizeiras, cozinheiras e curandeiras), foram queimadas na fogueira durante a Inquisição.
O sangue menstrual foi considerado impuro e a sexualidade feminina, reprimida. Médicos homens assumiram o controle da nossa saúde íntima, e pílulas anticoncepcionais adormeceram a nossa natureza cíclica. Acabamos por desconhecer o nosso corpo e ignorar os sinais que ele dá.
Ressignificar a menstruação é um passo muito importante de reconexão com o feminino e com o nosso centro de poder. É tomar de volta o controle sobre os nosso corpos e escutar o compasso da natureza dentro do nosso ventre.
O que você busca transmitir ao criar as ilustrações de "A menina que virou Lua"?
Com o traço do meu pincel busco transmitir a delicadeza com que vejo o mundo e a conexão com o sutil. Olhando com atenção você vai encontrar nos meus desenhos representações dos chákras (centros de energia espalhados pelo nosso corpo) e alguns animais de poder.
Também procuro criar espaços de reflexão acerca do corpo feminino, dos pelos que crescem em nós, e dos ciclos de contração e expansão.
Desenho num ato de reverência ao feminino e à Mãe Terra.
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1 comentários
Ansiosa para ler!
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